Velemos

por Paulo Jonas de Lima Piva

Deus como problema superado, como tema anacrônico, como falsa questão. Isso talvez só aconteça na Academia, isto é, no mundinho dos zeros, normalmente à direita. Já nas praças e nos maracanãs lotados, onde está o que realmente importa, tanto do Ocidente quanto do Oriente, no cotidiano coisificado e na realidade estúpida e desesperada dos mercados, a crença na existência e no poder de um deus único permanece o maior e mais eficaz dos subterfúgios, dos consolos, uma miragem assaz viva para milhões de obcecados pela vontade de mentira e ilusão. Portanto, para evitar novos onzes de setembro e novas inquisições, para lutar contra a homofobia, pelo direito ao aborto e ao prazer, pelo avanço da ciência e das tecnologias que diminuem ou eliminam sofrimentos, pela liberdade de expressão, de crença e, sobretudo, em nome da tolerância, não arredemos o pé do velório.

2 comentários:

Rafael de Lima Oliveira disse...

Rodrigo,
Sou uma pessoa que normalmente participo de velórios sem muitos problemas. Só não gostaria de participar do velório da humanidade livre de Deus. Se não se deve crer em Deus, que se faça por convicção racional, porque Deus é um absurdo, e não por bandeiras como direito ao aborto, homofobia, etc. Isso, além de estabelecer um ideal de homem livre de acordo com esses valores, dá um ar de ressentimento à humanidade...

Rodrigo disse...

Oi Rafa!

Na verdade, o velório de que fala Paulo Jonas de Lima Piva no post "Velemos" não é o da humanidade livre de Deus, mas de Deus, abandonado pela humanidade. Ele se refere à morte de Deus detectada por Nietzsche. A descrença em Deus que, entrelinhas, é panfletada pelo filósofo no post é a descrença no Deus que incita massas ignaras, estúpidas e idiotizadas por pastores eletrônicos à homofobia, preconceito, truculência, etc. Piva, ao que me parece, se volta contra um Deus de consequências nefastas sob o ponto de vista sociológico (ético) e democrático. Contra esse Deus eu também me armo, pois muitos dos meus, por descuido intelectual ou por opções existenciais heterodoxas tombaram sob a verve demoníaca do Pai insano que insufla seus filhos contra os próximos. O Deus contra o qual Piva impreca, certamente, não é o Deus no qual creio que tú cres.

Abraços.