Jean Meslier: um vigário despirocado

“Quando o assunto é Iluminismo francês, em especial o pensamento político do período, os nossos manuais e cursos acadêmicos de filosofia dão destaque apenas a pensadores da estirpe de Montesquieu e Rousseau, menosprezando outros com base em argumentos pouco persuasivos. É o caso, por exemplo, de Jean Meslier (1664-1729), um vigário de aldeia que escreveu, por volta de 1720, uma obra radical, na qual preconiza a união dos oprimidos em torno do estrangulamento do último rei com as tripas do último padre. Enquanto os vultos do Iluminismo, a maior parte de procedência nobre ou burguesa, advogavam o deísmo, a propriedade privada e o despotismo esclarecido como elementos de uma verdadeira civilização, Meslier, muito antes deles, sustentava o deicídio, o tiranicídio e o comunismo como as bases de um novo mundo, singularidade que lhe garante, a nosso ver, um lugar de importância e destaque na filosofia política das Luzes.”

Por Paulo Jonas de Lima Piva

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Da filosofia universitária e da nossa cagalhonice

Por Rodrigo Lucheta

Estudante sem EU 

O pensamento virou mercadoria.

O adorno universitário virou a purpurina burguesa capaz de encarecer o pensamento, de forma a melhor (mais caro) vendê-lo para nós, incautos idiotas ávidos pela sagrada unção do título.

Da mesma forma que doutos professores de filosofia, fantasiados de viajantes historiográficos, fingem percorrer o passado oficial da filosofia para melhor resistirem a este mesmo passado oficial (quando na verdade estão se colocando no sentido da História para banharem-se da aura justificada historicamente por esta mesma História), nós, alunos, acabrunhados diante do titânico poder que é dado aos sacerdotes do saber, fingimo-nos felizes diante da precária, alienante e mal contada historinha que nos apresentam nas aulas. É simples: basta olharmos o valor que atribuímos às notas (para livrarmo-nos o quanto antes daquilo tudo com nosso venerado título), em comparação com o valor que damos ao conteúdo…

A concentração do poder e a articulação havida entre os detentores de poder (do Vaticano aos Centros de Ciências da Educação...) fazem emanar pela Universidade uma lógica, uma dialética niveladora, cerceadora dos ímpetos individuais. O orgulho vira prepotência, a humildade... uma virtude. Tudo é pensado sob o prisma da mediocridade amorfa que reproduzirá, com seu diploma enfiado no rabo, o sistema que matou nela o indivíduo e pôs no mundo o sujeito (na acepção de sujeitado) castrador.

Na dinâmica reprodutora do atual sistema e estado de coisas, Foucault e os livros de auto-ajuda se complementam. Contra a atividade enérgica dos “utópicos” (arrogantes, prepotentes, impacientes, radicais…), a estratégia que amesquinha a força e inviabiliza o impacto. Contra as subjetividades cintilantes, de aço, irredutíveis... o ideário pequeno-burguês que faz da filosofia um manual para viver como as plantas: os tontos alienados compram livros de auto-ajuda para repetirem mantras diante do espelho; nós, os sábios universitários, compramos livros do Foucault e nos desculpamos na inação fantasiando estratégias que servem apenas para protelar a atividade que criará algo novo… E no presente, a bostidão corre solta.

O método científico é uma arma contra as subjetividades auto-afirmadoras. Com ele, nossos cabedais vernaculares são atirados na privada. O sentido que as coisas representam para nós não podem ser considerados. Vivemos sob a ditadura dos fatos. E só é fato aquilo que algum gordo imbecil determinou em seu gabinete com ar condicionado... Diante dos fatos, às favas a imaginação teórica...

É tudo uma grande novela, meus amigos. Mesmo o pensamento contrário, crítico, negador está preso no macro processo de produção e reprodução do real. Estamos fadados, por essa dinâmica, a morrer no fingimento, como baratas nos debatendo no estômago de Behemoth. Porém, para articular uma resistência digna deste nome, para lutarmos contra as tiranias e os totalitarismos invisíveis (mas não menos mortificadores) que diuturnamente tentam esfolar nossa singularidade… precisamos ser ouvidos. E para sermos ouvidos, precisamos do grito… e, pragmaticamente, também do título, do diploma. Para não sermos encapsulados na categoria do “filósofo de boteco”, incapaz de atravessar o purgatório universitário… obtenhamos o título… com notas máximas, de preferência…

Se a filosofia popstar contemporânea demoliu os fundamentos ontológicos erigidos desde a antiguidade, os filósofos de hoje refugiaram-se na Universidade para nela forjar um fundamento confortável para si... e dele, apedrejam os que sobrevivem do lado de fora.

Portanto, meus caros, não vislumbro saída: se o pensamento é mercadoria e a forma de lidar com o pensamento é seu encarecimento... Fodam-se as convenções, as linguagens padronizadas e padronizantes. Fodam-se os conceitos enlatados por Doutores. Fodam-se os métodos interpretativos e as dinâmicas catadoras de fatos para a legitimação da dominação. É do interior desse organismo que as células precisam começar a expelir suas secreções…

Que uma nova abordagem da filosofia seja inoculada nos palácios universitários (pois eles também precisam tremer…); mas saibamos também pensar para além dos muros dentro dos quais se escondem esses espremedores de culhões que gritam: formação, formação, formação!!!. Quando precisamos de: transformação, transformação, transformação!!!

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Michel Onfray entrevistado.

Uma de suas obras mais importantes e polêmicas é o Tratado de Ateologia, na qual o senhor defende a substituição da religião pela filosofia. Mas, para tirar a religião da vida, é preciso necessariamente substituí-la por algo?

 
Na verdade, é preciso substituir o placebo, a religião, pelo medicamento, a filosofia. Em outras palavras, trocar as fábulas, as histórias infantis, os mitos, o pensamento mágico, os além-mundos, pela sabedoria, pelas Luzes, pela inteligência, pela razão. Se antes ensinava-se como verdade uma Virgem que tem filhos, um Deus que abre o mar para deixar seu povo passar, mortos que ressuscitam, peixes multiplicados ao infinito, água que se transforma em vinho em um passe de mágica, hoje é preciso ensinar a reflexão, a análise, o princípio da não-contradição, a obrigação de ser coerente, o pensamento racional, sensato e reflexivo. Em resumo: substituir Bento XVI por Voltaire.


Mas qualquer um pode esquecer Deus? Mesmo aqueles que talvez não tenham conhecimento o suficiente para ver o mundo de outra maneira?


Se deixarmos uma criança longe de influências, jamais ela inventará essas bobagens, que são um puro produto da educação. É preciso somente substituir um mundo por outro, uma pedagogia por outra, um saber e seus conteúdos por outros saberes e outros conteúdos.


O senhor acredita que todo pensamento filosófico nasce de um eu, da experiência de um sujeito, e que muitos filósofos erraram ao construírem discursos supostamente desconectados de sua vida pessoal. No seu caso, o abandono que o senhor viveu na infância pode estar na origem de sua recusa pelo modelo familiar judaico-cristão?


Difícil de encontrar uma única causa. Há um conjunto de influências que faz com que sejamos o que somos. Também é preciso levar em conta uma mãe nada maternal, um pai invisível, surras durante a infância, um abandono ao orfanato com dez anos de idade e isso durante quatro anos, mais três anos de internato depois, uma autonomia aos dezessete… Mas eu bem que poderia ter desejado construir uma família, pensando que faria melhor que os meus pais, o que não teria sido muito difícil. Não, eu acredito que o verdadeiro motivo da minha recusa por esse modelo é libertário. Um filho condena os pais a perderem a própria liberdade, pois eles devem tudo à criança: presença, atenção, cuidados, disponibilidade, garantia de um lar estável, etc. Ora, eu gosto demais das crianças para correr o risco de me engajar em uma educação que é, de qualquer maneira, uma empreitada acima das forças humanas!

O número crescente de divórcios, separações dolorosas, violência conjugal e casamentos sucessivos mostra que a possibilidade de realização dentro de uma relação monogâmica e que supostamente deve durar toda a vida é cada vez menor? Ou isso tudo indica justamente que continuamos desejando o mesmo tipo de vida que nossos antepassados?


O problema é que não se imagina ou muito raramente o casal fora do casamento, da fidelidade, da monogamia, da coabitação, da procriação. O modelo dominante segue uma lógica consumista: ter, possuir, colecionar, gastar, descartar após o uso. Ele não leva à construção de uma história, mas à justaposição de histórias, que têm uma certa data de validade, e certos fatos funcionam como limites imediatos e definitivos: o adultério, por exemplo. É preciso inventar novas possibilidades de existência, inclusive e sobretudo no que diz respeito ao casal, à vida a dois. Construir para si no campo amoroso, e em todos os outros, uma vida sob medida.


Em sua obra, o senhor propõe uma definição de desejo: desejo é excesso, e não falta, incompletude, busca pela outra “metade”. Se desejo é excesso, isso significa que às vezes é preciso sublimar alguns de nossos impulsos? E, uma vez que seu pensamento está livre de qualquer moral religiosa, qual o critério que o senhor propõe para avaliarmos se devemos ou não responder a determinado desejo?


O desejo definido como excesso não obriga a nada no terreno da prática. Por outro lado, se a ética defendida é hedonista, que é meu caso, não há razão para impedir que o desejo se transforme em prazer. A ética que proponho é contratual: devem-se realizar aqueles desejos que não causam mal ao outro. E fugir das pessoas que, delinquentes dos relacionamentos, são incapazes de estabelecer uma relação contratual com seu semelhante porque são psicóticos, neuróticos, perversos ou acometidos por problemas de comportamento, o que toca milhões de pessoas… Minha ética hedonista é democrática porque é destinada a todos, mas aristocrática porque somente um punhado pode aderir a ela e realizá-la.


É comum que se associe o prazer à juventude, como se o prazer tivesse uma data de validade: em certa altura da vida, seria preciso renunciar a ele, em nome de uma existência mais regrada, estável, sem percalços, e que geralmente está relacionada a um emprego fixo, casamento, filhos, etc. Como sua filosofia hedonista vê isso?


Desejar o prazer é o que define o ser humano, do ventre materno ao último suspiro. Não há idade para ser hedonista, ou para não deixar de sê-lo. Os prazeres são diversos e múltiplos. Existem prazeres relacionados à idade, é claro: a enologia não diz respeito às crianças de cinco anos, nem a gastronomia, e a velhice tem suas próprias alegrias. Mas, de qualquer maneira, é preciso responder ao prazer não pela recusa, mas por sua realização, qualquer que seja a idade.


Lendo sua obra, percebo que o senhor gosta da psicanálise, mas não da de Lacan. Por quê?


Gosto de Freud e do freudismo, de pouco da psicanálise institucional, e de praticamente nenhum psicanalista. Lacan, o maior dos histriônicos, é uma catástrofe que muito fez para a má reputação da disciplina. Vou falar sobre isso no meu próximo seminário na Universidade Popular de Caen. Em resumo: a psicanálise é um pensamento mágico que quis apresentar-se como ciência, o que forçou Freud a dizer um certo número de mentiras reconhecidas como verdade. Eu considero o pensamento mágico um pensamento nobre e respeitável, mas é preciso que ele não tenha a audácia de pretender rivalizar, por exemplo, com a teoria da relatividade. Ou com o heliocentrismo. Além do mais, conheci vários psicanalistas que me pareciam menos em condições de tratar alguém que de curar seus próprios delírios. Lacan em primeiro lugar. Para evitar dar ordens a si mesmos, eles davam a outros, com resultados deploráveis, ou nulos. É preciso voltar ao texto freudiano. Lê-lo de maneira crítica.


O senhor criou a Universidade Popular de Caen em 2002, após demitir-se do sistema de ensino francês. O que o incomoda no ensino tradicional, e que o senhor decidiu fazer diferente em sua universidade?


O que me incomodava? A instituição, a polícia acadêmica, administrativa, a burocracia, o adestramento no lugar da educação, a disciplina no lugar da instrução, a formatação intelectual e ideológica de clones destinados a servir ao mercado, o conteúdo pobre, o corpo docente triste, apagado, desmobilizado, o desprezo dos alunos, a “militarização” dos estabelecimentos, a sede de poder dos pequenos chefes, etc. A Universidade Popular de Caen é gratuita, sem obrigação de títulos, sem diplomas, sem visar o lucro, ela é livre, organizada em torno do saber existencial, pessoal…


O senhor defende a ideia de que a filosofia não é apenas uma disciplina acadêmica, mas algo que deve ser posto em prática, que deve estar presente em nosso cotidiano. Nesse sentido, a filosofia deve estar mais na mídia que na sala de aula?


Nem mais, nem menos. Há espaço para todos, e não é do meu feitio fazer fogueiras, pôr fogo em bibliotecas, ou em filósofos. Deixemos um punhado de provocadores licenciados em filosofia, professores, doutores fazer jornalismo filosófico e recuperar os benefícios simbólicos e financeiros, surfando na onda filosófica. Deixemos tal ou tal celebridade, escolhida por sua aparência, ou por sua vida social, “fazer filosofia” na televisão, invocando Hegel para falar das amantes do presidente da república. É o bolor de nossa época. Deixemos filósofos aconselharem os poderosos que nos governam, e discursarem na mídia sobre o porquê de a miséria ser mais digna em Ruanda ou na Bósnia do que na porta de casa ou na das usinas. É o resíduo da humanidade. Deixemos. Mas proponhamos também coisas que vão além disso. As pessoas que as merecem, no fim das contas, sabem ver as diferenças.

Fonte: Revista Vida Simples

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Nietzsche – A morte de Deus – O meio ambiente – Uma imagem

 

“Deus está morto: mas, considerando o estado em que se encontra a espécie humana, talvez ainda por um milénio existirão grutas em que se mostrará a sua sombra.”

Friedrich Nietzsche

 

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O homem contemporâneo (por Michel Onfray)

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“O capitalismo formulou seu tipo ideal com a figura, anunciada por Marcuse, do homem unidimensional, variação sobre o tema proposto por Nietzsche do homem calculável. Seu retrato é conhecido: iletrado, inculto, ávido, limitado, sacrificando-se às palavras de ordem da tribo, arrogante, inseguro, dócil, fraco com os fortes, forte com os fracos, simples, previsível, amante arrebatado dos jogos e dos estádios, devoto do dinheiro e sectário do irracional, profeta especializado em banalidades, em idéias curtas, tolo, néscio, narcisista, egocêntrico, gregário, consumista, consumidor de mitologias do momento, amoral, desmemoriado, racista, cínico, sexista, misógino, conservador, reacionário, oportunista, portador ainda de traços de um fascismo ordinário. Eis o sujeito cujos méritos, valores e talentos são hoje vangloriados”.

Fármacos fundamentais do homem contemporâneo

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Alguns pilares contemporâneos

Racismo - Ateísmo dogmático - Teísmo babão - Cientificismo apostolico-profético - Academicismo truculento - Ódio de classe – Feminismo oco – Time do coração - Machismo camuflado – Culto ao deus Grana – Equivalência monetária de tudo – Douto pernosticismo – Espiritualismo para a negação da carne – Crença cega no especialista – Perene amor monogâmico – Meu partido político – Meu psicanalista – Minha família – Minha Esposa – Meus filhos – Meu fututo - Padim Padi Çíçu – Neoliberalismo – Satanização do Estado – Homofobia reflexiva da viadagem – Esquerdismo alquimista - Workaholiquismo de livramento do Eu – Ceticismo reflexivo da preguiça – Moralismo conveniente – Vivência protelada – Tanatofilismo transmutado em moralismo – Louco medo da loucura – …

 

Ajudem-me, a lista é bem maior…

Canto Gregoriano para o meu amigo João Carlos

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Nietzsche e Godard

 

É notória, para os que me conhecem um pouco, minha predileção literário-filosófica pelo pensamento de Nietzsche (predileção mais literária do que filosófica, diga-se – e o problema reside aí em minha dificuldade em interpretá-lo filosoficamente). Portanto, desculpo-me por estar privilegiando este filósofo ao longo dos últimos posts.

Mas como acabei (graças a Tupã!) meu Projeto de Pesquisa para o TCC, tenho voltado minhas leituras exclusivamente para o que me agrada e, além disso, estamos estudando Nietzsche em Filosofia Moderna, portanto 1+1=2, ou seja, ando quase que exclusivamente (em meus parcos tempos livres do “tú deves” rsrsrs) voltado para os escritos, sons e filmes de refulgência nietzschiana.

Do interior da inevitável e perturbadora influência que esse cara exerce sobre mim, oferto-vos para download o link de um filme do Godard que apresenta uma personagem que, pelo menos para o meu entender, tem sua vibe ao mesmo tempo pedindo e recusando o enquadramento numa das categorias existenciais propostas por Nietzsche em sua tese das três transmutações (trata-se de Michel Poiccard, vivido por Jean-Paul Belmondo).

Ainda sob o prisma nietzschiano, para os que decidirem assistir ao filme (e aos que já o assistiram), solicito que se tente vislumbrar a tensão de aproximação e repelência havida entre os dois personagens centrais (pathos da distância???).

Bom filme!

À Bout de Souffle

Sinopse:
Após roubar um carro em Marselha, Michel Poiccard (Jean-Paul Belmondo) ruma para Paris. No caminho mata um policial, que tentou prendê-lo por excesso de velocidade, e em Paris persuade a relutante Patricia Franchisi (Jean Seberg), uma estudante americana com quem se envolveu, para escondê-lo até receber o dinheiro que lhe devem. Michel promete a Patricia que irão juntos para a Itália, no entanto o crime de Michel está nos jornais e agora não há opção. Ele fica escondido no apartamento de Patricia, onde conversam, namoram, ele fala sobre a morte e ela diz que quer ficar grávida dele. Ele perde a consciência da situação na qual se encontra e anda pela cidade cometendo pequenos delitos, mas quando é visto por um informante começa o final da sua trágica perseguição.

Download:

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Rogério SkyLab pergunta aos Modernos:

 

                         

De temas de TCC e de orientadores, por Emil Cioran

 

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Das necessárias esmolas existenciais

por Paulo Jonas de Lima Piva

A existência às vezes é uma canção do Cassiano ou do Hyldon: tosca, extravagante como as calças bocas de sino dos anos 70, mas com uma melodia irresistível. Instante de esmola.

Peidemos

por Paulo Jonas de Lima Piva

Antístenes, Diógenes e Crates, filósofos cínicos, personagens que foram varridos para debaixo do tapete da história do pensamento pela hegemonia truculenta e perversa do platonismo e do cristianismo na história da filosofia oficial, demonstraram várias vezes que há muito mais realidade e objetividade num peido bem dado - isto é, num peido, digamos, aplicado com bastante rigor, unidade, coerência, consistência e simetria - do que numa discussão filosófica séria...

Velemos

por Paulo Jonas de Lima Piva

Deus como problema superado, como tema anacrônico, como falsa questão. Isso talvez só aconteça na Academia, isto é, no mundinho dos zeros, normalmente à direita. Já nas praças e nos maracanãs lotados, onde está o que realmente importa, tanto do Ocidente quanto do Oriente, no cotidiano coisificado e na realidade estúpida e desesperada dos mercados, a crença na existência e no poder de um deus único permanece o maior e mais eficaz dos subterfúgios, dos consolos, uma miragem assaz viva para milhões de obcecados pela vontade de mentira e ilusão. Portanto, para evitar novos onzes de setembro e novas inquisições, para lutar contra a homofobia, pelo direito ao aborto e ao prazer, pelo avanço da ciência e das tecnologias que diminuem ou eliminam sofrimentos, pela liberdade de expressão, de crença e, sobretudo, em nome da tolerância, não arredemos o pé do velório.

Bobeira ontológica

por Paulo Jonas de Lima Piva

O otimista é um bobo alegre, vê tudo cor-de-rosa, mas se acha um realista. Em contrapartida há o pessimista, que vê tudo descolorido, que também acredita ser um realista, mas não passa de um bobo entediado. Como alternativa mais racional a esses dois bobos há o bobo do meio-termo, no fundo, um otimista moderado que também se crê realista: a existência é cinza com pontinhos cor-de-rosa que valem a pena. Por fim, há ainda o cético, aquele que suspende indiferente o seu julgamento sobre se há mais merda ou flores na condição humana e na natureza. De todos os bobos, este talvez seja o mais sábio de todos.

Cadernos Nietzsche democratizados

por Paulo Jonas de Lima Piva

Os Cadernos Nietzsche, uma publicação do GEN-USP, a mais importante do Brasil sobre o filósofo alemão, está à disposição no seguinte site:
http://www.fflch.usp.br/df/gen/cn/edicoes.html

 

Fonte: O blog do qual tirei a informação acima faliu (clique para confirmar). Não está mais no ar (mas pelo sistema feed do Google as coisas virtuais não morrem…) O autor, Sr. Paulo Jonas de Lima Piva, é professor de filosofia na Universidade São Judas Tadeu (esse cara, antes mesmo do vestibular que prestei para entrar na facul, me disse que eu tinha tudo para incorporar o “aluno pedante que não lê e acha que sabe tudo”. Profeta!). Piva gosta dos cínicos, dos céticos, dos hedonistas, dos anarquistas e coisas que o valham. Gostava também de achincalhar, publicamente, a instituição Academia, os talebãs da lógica e do enquadramento e coisas que o valham. Grande sujeito. Vou postar algumas coisas ressuscitadas do seu antigo blog.

Documentário de um romântico brasileiro

viniciusdemoraesdvd [Documentário] Vinícius   Miguel Faria Jr   Uma biografia do Gênio Vinícius de Moraes

“Com depoimentos comoventes e curiosos de amigos e grandes personalidades brasileiras como Caetano Veloso, Ferreira Gullar, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Tônia Carrero, Toquinho, Carlos Lyra, Antônio Candido, Edu Lobo, Francis Hime e Miúcha, o longa traz interpretações de Camila Morgado – que se destacou por seu trabalho na minissérie “A Casa das Sete Mulheres” – e de Ricardo Blat, ator com sólida formação teatral e que realizou diversos trabalhos no cinema e na TV, como por exemplo na minissérie global “Hoje É Dia de Maria”.

O show, o ponto de partida do longa, conta com grandes músicos da MPB – Adriana Calcanhoto, Olívia Byington, Zeca Pagodinho, Yamandú Costa, Renato Braz, Mônica Salmaso, Mariana de Maraes, Sergio Cassiano, MS Bom, Nego Jeif, Lerov e Mart´Nália – interpretando grandes sucessos musicais de Vinicius.

Nascido em 1913 no Rio de Janeiro de família de classe média, Vinicius de Moraes foi testemunha e personagem de importantes transformações na cidade e desenvolveu um dos percursos mais originais e fecundos da cena cultural brasileira do século XX. Um dos exemplos foi em 1956, em que ousou reunir a cultura erudita e popular em Orfeu da Conceição, obra que garantiu Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 1956, bem como o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Sua “Garota de Ipanema”, em parceria com Tom Jobim é uma das músicas mais tocadas em todo o mundo, em todos os tempos.

O longa não restrige apenas à vida artística de Vinicius, sua vida pessoal, marcada por muitas paixões, nove casamentos e amizades duradouras, também é retratada por raridades em arquivos, depoimentos de amigos e familiares.

A montagem de um show é o ponto de partida para a reconstituição de uma trajetória sem paralelos no cenário cultural do país. A Vida, os amigos, os amores de Vinicius de Moraes, autor de mais de 400 poesias e cerca de 400 letras de música. A essência criativa do artista e filósofo do cotidiano e as transformações do Rio de Janeiro através de raras imagens de arquivo, entrevistas e interpretação de muitos de seus clássicos.”

Vinícius

Diretor: Miguel Faria Jr.
Elenco: Ricardo Blat, Camila Morgado, Antonio Candido
Duração: 124 min
Ano de produção: 2005
Gênero: Documentário
Tamanho: 731,5mb, em 8 partes

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Para assistir plugado

 

Fonte

El cuerpo hedonista

 

PROPUESTA DE MICHEL ONFRAY: UN HEDONISMO ÉTICO Y ESTÉTICO, INMANENTE Y VOLUPTUOSO.

 

As 3 Metamorfoses

Trabalho de Filosofia apresentado por alunos da Universidade de Fortaleza:

Camelo, Leão e a Criança.

Canção: Meu Deserto.

 

Sobre Nietzsche. Sobre Maio de 68. Sobre o riso de leões…

 

(recomenda-se, ao fundo, a música “Ouro de Tolo” do Raul Seixas)

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Ravel e os Wittgenstein

Paul Wittgenstein (irmão do filósofo) viveu entre 1887 e 1961. Foi um promissor pianista austríaco cuja carreira quase foi interrompida por um evento trágico ocorrido em sua vida. Em batalha como soldado na Primeira Guerra Mundial, foi gravemente ferido, capturado pelos russos e teve seu braço direito amputado. Em liberdade, Paul... volta ao piano. Escreve para diversos compositores pedindo composições musicais factíveis para um pianista em sua atual condição. E obtém diversas obras…

Como sabemos, a família Wittgenstein era muito influente nos círculos artísticos de Viena e as cartas remetidas por Paul são atendidas por ninguém menos que (além de outros) Richard Strauss e Maurice de Ravel. Paul executa umas quatro composições, mas a de maior sucesso ficará conhecida como “O concerto para a Mão Esquerda de Ravel”.

Apreciemos a obra:

Ravel: Piano Concerto for the Left Hand

Do espaço niilista ao espaço hedonista

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(…) um espaço infinitamente extenso em comprimento, largura e altura ou profundidade, divisível em diversas partes que podiam ter diferentes figuras e grandezas, e ser movidas ou transpostas de todas as maneiras (…)

(René Descartes)

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pascal

Imerso na imensidão dos espaços que ignoro e que me ignoram, eu me apavoro”

(Blaise Pascal)

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heidegger1“O ponto de comparação mais difícil, mas também menos enganador, para avaliar a autenticidade e o vigor de um filósofo é ver se ele capta, logo e radicalmente, no ser do ente, a proximidade do nada. Quem não tiver essa experiência ficará, de modo definitivo e sem esperança, fora da filosofia”

(Martin Heidegger)

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Sem Título-1 Como ainda estamos com o mecanicismo científico, matemático, lógico e geométrico enfiado até o talo em nossos rabos, tendemos a avaliar a filosofia cartesiana apenas em seu aspecto tecnico-material. De fato, sabemos discorrer com propriedade acerca da espectral res extensa, dos poderes meta-prudentes da racionalidade pensamenteira de Descartes e dos demais subterfúgios lógicos e rasteiros dos quais o filósofo lança mão para fundamentar (?) seu racionalismo. Mas muito pouco (ou nada) falamos acerca das implicações existenciais da concepção cartesiana de espaço, que desde o século XVII se tornou hegemônica na filosofia e na vida, atravessou incólume pela crítica kantiana e veio perder força apenas no século XX, no pós-Nietzsche e em suas crias na filosofia, nas artes e, por que não, na arquitetura. Mas é importante salientar: essa perda de força só se dá sob o signo da produção filosófica, só se tornou tangível naqueles que souberam ler e viver o que se produziu no pós-Nietzsche.

Como é sabido, vivemos num período em que a realidade socio-cultural  reluta (por inúmeras razões, diga-se, e todas elas de alguma maneira relacionada com os poderes sob os quais tentamos viver) em dar ouvidos ao que a filosofia vem produzindo em nosso tempo. Como caranguejos, vivemos, hoje, sob concepções filosóficas que há muito deveriam ter sido enterradas no poeirento ambiente universitário. E é sobre esse descompasso entre filosofia e vida que vemos misérias anacrônicas (misérias que deveriam estar no túmulo com Pascal…) ganhando fôlego em nossos dias.

VazioÉ com a noção de espaço que identifico alguns de nossos males contemporâneas (síndrome do pânico, depressão, agorafobia, e a pqp). Desde Descartes, o espaço é o lugar, por excelência, esvaziado de vida. A res extensa não se comunica conosco, não nos toca, é indiferente, ascética, fantasmagórica, por ela deslizamos em inércia como que num vácuo de angústia. Como bolas de bilhar numa mesa de dimensões infinitas, deixamos de nos sentir em casa, perdemos o conforto, nosso corpo estranha e se retorce sobre si mesmo: ora se contrai para se sentir, ora se dilata em busca de um contato que, quando surge, se dá com o ponto móvel de outra bola de bilhar que deslizará para o seu lado no vazio infinito… Diante da incomunicabilidade das longínquas estrelas, sentimos o desespero de ter que viver nesse vácuo de dimensões cósmicas.

Mas as coisas não precisam necessariamente se passar sob o signo dessa cemitérica concepção espacial. Não mesmo.

Kant nos ensinou que todo corpo pressupõe uma extensão, que todo objeto é circundado pelo espaço que ocupa e que, sem esse lugar, o objeto não pode ter existência (ok, professora, fenomênica). Aceitemos. Mas façamos com Kant o que faremos com o espaço: digamos que esse objeto é… nosso corpo… e digamos que o espaço é algo que tem cor, cheiro, textura tátil e visual, temperatura, luminosidade, etc. Agora, joguemos fora a fita métrica, matemos os agrimensores. Aos diabos o espaço quantitativo! Foda-se o “quanto mede”, foda-se a “metragem quadrada”, a angulação e a cardinalidade!

 

Agora olhemos. Mas tenhamos cuidado com esse olhar… ele está ainda impregnado da adestração à qual nos submeteram; não “atravesse” as coisas, chame-as para si, deixe que elas te olhem. Isso. Olhe-as com todos os seus poros. Olhe cheirando, tateando. Isso, fareje o espaço! Agora ouça. Ouça como o espaço canta. Está ouvindo? Pois é.

Você está certo: o canto pode eventualmente ser feio, pode ferir seus ouvidos. O espaço pode feder, ofuscar, arranhar, fazer suar. Sei que a melodia do espaço em que estás pode muito bem ser estridente, histriônica, louca. Mas isso pouco importa, aliás, isso é um bem: se o espaço estivesse morto, como morto é o espaço geometrico-matematico, angulado, logicizado, calculável, recortável, cartesiano… duvido que ele estivesse te olhando, te recebendo, interagindo contigo. Duvido que ele estivesse cantando.

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Francis Bacon chegou à China!!!

Alegremo-nos, Francis Bacon chegou à China! Viva o prograsso técnico e científico! Viva a Nova Atlântida! Os ídolos da tribo estão quase que totalmente extintos na China. Aliás, prevê-se que em alguns anos não haja tribo alguma sobre a Terra. Festejemos, amigos!

                  

As máquinas, embora estejam eventalmente cagando radioatividade, fuligem, humilhação, merda e sofrimento na cabeça das pessoas, estão elevando à enésima potência o poder dos chineses sobre a natureza. Viva! Apreciem, meus caros! Vejam só os dedos e pernas tortos: perfeitamente adaptados ao conhecimento e intervenção precisos na dinâmica da natureza! Palmas! Palmas para os chineses!

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Os ídolos da caverna estão em estágio avançado de dissolução. Sim, é verdade! Veja só: novíssimas espécies de seres humanos estão sendo criadas. Toda a subjetividade está sendo esmagada desde a infância! Ave! Em pouco tempo, nenhuma possibilidade haverá de um chinês vir a dizer: “sou um homem e tenho cá minha caverna”. Apreciem os novos espécimes:

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E os ídolos do foro? Ah! Coisa do passado! Enrolar-se com as palavras, com o sentido delas? Designações equivocadas, arbitrárias, erros linguísticos em virulência entre o povo? Nunca mais. Vejam isso: como vão falar sem lógica se não sentem mais prazer algum em falar? Falar pra que, não é pequenos? Viva o indizível das crianças chinesas!

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E os ídolos do teatro? Nem aqui na China! Quem hoje é tonto de vir com filosofias pré-lógicas que contradigam as máquinas? Hahaha! Tonto mesmo! As máquinas são sábias, meus caros. Viva o progresso! Veja só o que aconteceu com esse aí e veja uma de nossas máquinas em magnífica ação! Ah que beleza!

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Fontes das fotos:

http://www.chinahush.com/2009/10/21/amazing-pictures-pollution-in-china/

http://www.smithfund.org/winners

Charles Bukowski e a Filosofia

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Charles Bukowski (este distinto senhor da foto ao lado – o da sua direita, leitor; não consegui identificar o sexo do(a) que está à esquerda) não foi Moderno e muito menos filósofo. Não tinha tempo para essas coisas… Gostava de apostar nos “cavalinhos”, beber, boxear na rua e acumular trepadas com as prostitutas de Los Angeles. De quando em quando escrevia alguns artigos em jornais e revistas underground e posteriormente reunia os escritos em livros.

Nos textos de Bukowski, não é comum vê-lo mencionar os filósofos ou a filosofia. Normalmente ele voltava sua metralhadora contra os poetas (“imbecís que gostam de falar de si e de suas mães”) e contra os inúmeros patrões que ele teve em suas perambulações pelos EUA. Em relação à apreciação de Bukowski acerca da filosofia, além do que vai abaixo, lembro-me que ele escreveu em algum lugar que preferia mil vezes papear com um bêbado americano do que ler um filósofo grego. Enfim. Vamos dar a palavra ao fanfarrão:

“Tenho lido os filósofos. São uns caras realmente estranhos,  engraçados e loucos. Jogadores. Descartes veio e disse: ‘é pura bobagem o que esses caras estão falando’. Disse que a matemática era o modelo da verdade absoluta e óbvia. Mecanismo. Então, Hume veio com seu ataque à validade do conhecimento científico causal. E depois veio Kierkegaard: “Enfio meu dedo na existência – não tem cheiro de nada. Onde estou?”. E depois veio Sartre, que sustentava que a existência é absurda. Adoro esses caras. Embalam o mundo. Será que tinham dor de cabeça por pensar dessa forma? Será que uma torrente de escuridão rugia entre seus dentes? Quando você pega homens como esses e os compara aos homens que vejo caminhando nas ruas ou comendo em cafés ou aparecendo na tela da TV, a diferença é tão grande que alguma coisa se contorce dentro de mim, me chutando as tripas.”

Charles Bukowski

Filosofia Moderna no Ensino Médio

Diálogo entre o Coelho e o Lobo

 

Coelho – Isso não leva a nada. Vais bater com a cara no muro. Vais acabar só. Fodido e mal pago. Se não pode com o inimigo, junte-se a ele, coma com ele, faça suas as proposições dele.

Lobo – Isso seria um crime contra mim. Seria um desrespeito, uma imoralidade.

Coelho – Você não sabe? A moralidade subsiste e só é um fato sob o signo do coletivo. Não existe moral para o indivíduo.

Lobo - O que dizes? Não sabes por acaso que sob a moralidade há valor, que o que a dá vida é animal, demasiado animal? Não enxergas que o coletivo é um fantasma que ganhou vida e se voltou contra Ti?

Coelho – O coletivo me protege, portanto, alimentá-lo deve ser minha mais alta aspiração. Além do mais, submeter-me ao que é melhor para o coletivo é a minha forma preferida de demonstrar minha força. Aniquilar-me, enquanto indivíduo, em função do todo, é meu maior motivo de orgulho. Sou forte quando consigo ser humilde.

Lobo - Veja com atenção, meu caro Coelho, a humildade é a sua ilusão de vitória. Na verdade, ela não é nada senão uma necessidade sua. Sua participação na sua invenção é desprezível, 99% do que você é foi moldado em ti na porrada. És humilde porque precisas ser. Se tu ergues a cabeça, um coelho maior, aquele coelhão ali, aquele que está dizendo que a humildade é uma virtude, aquele coelho te acorrenta e te esfola até estares formado.

Coelho – Faz sentido. Mas prefiro isso, a viver só, como você, que sente frio e não come há dias.

Lobo – Compreendo-te, e concordo contigo nisto. A bem da verdade, não recebo a ração diária a que fazes jus abdicando de si, mas ao menos disponho do sagrado que sou Eu. Mil vezes, mil vezes a solidão e o frio do lobo, solidão e frio que me preparam... que a comodidade que me enverga e me quebra e me amolece.

Coelho – (…) Sr. Lobo.

Lobo – Pois não.

Coelho – Você sabe que suas palavras não me são completamente estranhas? Não sei como, realmente não sei como, pois fui adestrado a pensar com lógica, mas sinto que esses absurdos contraditórios são parentes de uma verdade que me escapa.

Lobo – Sério mesmo? Achas realmente isso ou, como é seu hábito, me bajulas.

Coelho – É muito sério. Mas não se anime. Isso não significa que eu vá aderir.

Lobo – Não quero adeptos.

Coelho – Você é realmente estranho. Você me assusta. Mas... mas...

Lobo – Mas o que?

Coelho – Podemos conversar novamente?

Lobo – Acho que não. Não será mais preciso... Ei! Ei, você aí ovelhinha! Podemos conversar?

E Baudelaire também foi Moderno (II)

“Embriagai-vosSem Título-1


É necessário estar sempre bêbado. Tudo se reduz a isso; eis o único problema. Para  não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos abate e vos faz pender para a terra, é preciso que vos embriagueis sem tréguas.

Mas – de quê ?


De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor. Contanto que vos embriagueis.

E, se algumas vezes, sobre os degraus de um palácio, sobre a verde relva de um fosso, na desolada solidão do vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio, hão de vos responder:

- É a hora da embriaguez ! Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem cessar ! De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.”

Clique nas imagens para baixar os e-books:

 

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E Baudelaire também foi Moderno

Sem Título-2

 

“AS LITANIAS DE SATÃ


Ó tu, o Anjo mais belo e o mais sábio Senhor,
Deus que a sorte traiu e privou do louvor,


Tem piedade, Satã, desta longa miséria!

Tu, que és o condenado, ó Príncipe do Exílio,
E que, vencido, sempre emerges com mais brilho,

Tem piedade, Satã, desta longa miséria!

Tu, sábio e grande rei do abismo mais profundo,
Médico familiar dos males deste mundo,

Tem piedade, Satã, desta longa miséria!

Tu, cujas graças ao leproso e ao paria cedem
Com a lição do amor o próprio gosto do Éden,

Tem piedade, Satã, desta longa miséria!

Ó tu, o que da Morte, a tua velha amante, 
Engendraste a Esperança - a louca fascinante!

Tem piedade, Satã, desta longa miséria!

Tu, que dás ao proscrito a fronte soberana,
Que em torno de uma forca um povo inteiro dana,

Tem piedade, Satã, desta longa miséria!

Tu, que bem sabes onde, nas terras mais zelosas,
Cioso Deus guardou as pedras mais preciosas,

Tem piedade, Satã, desta longa miséria!

Tu, cujo olhar conhece os fundos arsenais,
Em que dorme sepulto o povo dos metais,

Tem piedade, Satã, desta longa miséria!

Ao sonâmbulo a errar à borda de edifícios,
Tu, cuja larga mão esconde os precipícios

Tem piedade, Satã, desta longa miséria!

Tu, que magicamente abranda ossos ralos,
Do ébrio retardatário a quem pisam cavalos,

Tem piedade, Satã, desta longa miséria!

Tu, que ao homem - nas mãos da desventura um títere -
Ensinaste a juntar enxofre com salitre,

Tem piedade, Satã, desta longa miséria!

Tu que impões tua marca, ó cúmplice sutil,
Sobre a fronte de Creso, que é impiedoso e vil,

Tem piedade, Satã, desta longa miséria!

Tu, que na alma e no olhar destas mulheres pões,
O culto da ferida e o amor dos farrapões,

Tem piedade, Satã, desta longa miséria!

Do exilado bastão, lâmpada do inventor,
Confessor do enforcado e do conspirador,

Tem piedade, Satã, desta longa miséria!

Pai adotivo dos que, em sua ira sombria,
Deus Pai pode expulsar do paraíso um dia,

Tem piedade, Satã, desta longa miséria!

Sobre a punheta na Modernidade

Segundo o filósofo e cineasta Woody Allen, a masturbação é o sexo com a pessoa que mais amamos na vida. Mas nem sempre foi assim. Após longo período incólume (exceto quando o filósofo grego Diógenes de Sínope punhetava-se na ágora), a prática passa a ganhar um toque satânico. Foi Tomás de Aquino quem primeiro viu o Cão na arte, afirmando que tal habilidade era mais pecaminosa do que o pecado de trepar com a própria mãe.

Como a medicina medieval, a exemplo de quase de todo o saber produzido no período, vinha a reboque do que diziam os auditores de Deus na terra, o rito ao deus Onã ganha, além do diabolismo de Tomás, uma pincelada científica. Os cientistas da alma, que pouco conheciam dos eflúvios da carne, diziam que o esperma era uma criança em miniatura e que, portanto, alimentar os ácaros do lençol seria algo tão condenável quanto um infanticídio, como ainda hoje se prega em algumas alcovas religiosas.

Mas é no século XVIII que a mão vira efetivamente um instrumento do Bode Preto. Em 1712, um tratado anônimo descrevia, com minúcias que somente um Doutor em punheta profissional poderia conhecer, os malefícios da tão condenada ginástica localizada. Dentre as mais terríveis conseqüências, incluía-se: a loucura, a sífilis e o crescimento de pelos nas mãos.

Ainda no século das Luzes acesas, um certo Samuel Auguste Tissot, médico suíço, publica em 1758 o “Ensaio sobre as doenças decorrentes do onanismo”. É aí que o cerco se fecha contra os esportistas: distúrbios do estômago e da digestão, perda do apetite, fome voraz, vomitos, náuseas, debilitação dos órgãos respiratórios, tosse, rouquidão, paralisias, enfraquecimento do órgão de procriação (a ponto de causar impotência), falta de desejo sexual e ejaculações noturnas, diurnas e verpertinas. Tais conjecturas causaram um verdadeiro surto de complexos de culpa, medos, recalcamentos e de polução involuntária entre os jovens.

Mas no final da Modernidade, sobretudo com Freud (que não via no metier nada além de uma coçadinha inocente) e Nietzsche (que, segundo Richard Wagner, masturbava-se por questões higiênicas e morais) a punheta começa a ganhar o glamour que nunca teve (excetue-se, novamente, o filósofo do barril).

Avançando no século XX, alguns especialistas (provavelmente punheteiros inveterados) passam a encarar a brincadeira como algo absolutamente salutar e recomendável, levando a se criar uma verdadeira indústria do sexo ermitão. Mas infelizmente esse período não é objeto deste blog.

Da dor de ser aurora.

 

Que a contemporaneidade não se esqueça do quanto doeu.

De quanta coragem se precisou.

De quanto chão rachado, movediço mesmo se teve de tentar caminhar.

De quanta náusea, fome, sede, frio se teve de suportar.

De com quantos abalos sísmicos, quantos arrebentamentos de nervos se teve de conviver… e sozinho.

Que a contemporaneidade não se esqueça de quantas feras desconhecidas, inauditas se teve de cutucar.

Que a contemporaneidade não se esqueça...

E que também não se acovarde!

 

Aos diabos os estudos burocráticos! (Nietzsche)

Sem Título-1

Nietzsche nazista?

Sem Título-1

Antes e depois de Marx

 

Chico Bento ANTES da noção de luta de classes:

2

 

 

Chico Bento DEPOIS da noção de luta de classes:

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Pondo os óculos no devir…

Óculos de Kant

Racionalistas X Empiristas

descartes

Hegelianismo Pictórico 2 (a missão?)

Em que medida as imagens da apresentação abaixo podem se relacionar com a concepção hegeliana de sujeito?
Deixe sua opinião no Mural de Recados na coluna esquerda do blog.
                    
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Esmiuço, logo existo!

“Em seguida a isso, eu quis procurar outras verdades, e tendo-me estabelecido o objeto dos geômetras [trata-se do espaço], que eu concebia como um corpo contínuo, ou um espaço infinitamente extenso em comprimento, largura e altura ou profundidade, divisível em diversas partes que podiam ter diferentes figuras e grandezas, e ser movidas ou transpostas de todas as maneiras, pois os geômetras conjeturam tudo isto em seu objeto, examinava algumas de suas demonstrações mais simples.”
Descartes

Velazquez Las Meninas
As meninas – Velázquez

anatomia-rembrandt
A lição de Anatomia do Dr. Tulp - Rembrandt